sábado, dezembro 12

Quarto de Badulaques

Rubem Alves, adoro sua escrita, quando começo uma literatura sua degusto casa palavra, cada frase. Sua humanidade me emociona, seu conhecimento agrega em minha alma um contentamento indecifrável. “Com ele” me sinto normal, me identifico, me questiono, sondo meu coração pra tentar não deixá-lo esfriar. Conheço um pouco da sua biografia, sua história de vida, as brigas com a igreja e com ele mesmo, suas divergências com algumas metodologias de ensino, claro, não o conheço pessoalmente(mas adoraria).Acredito de verdade que seus livros são como caleidoscópios, eles tem o dom transformar os acontecimentos diários em caquinhos coloridos e belos de se olhar e admirar.

Quarto de Badulaques - “BADULAQUE, s. m.: Guisado de fígado e bofes; coisa miúda, ou velha, de pouco valor; o que as mulheres põem no rosto para amaciar ou enfeitar a pele.“ Está no Aurélio. No sobradão colonial do meu avô, com sala de visitas de teto barroco, piano Pleyel vindo da França, castiçais para velas, vidros coloridos importados e desenhos dourados, havia um quartão que as tias mantinham fechado à chave (aquelas chavonas pretas, enormes, que se pegam com a palma da mão) e que nós, os sobrinhos, apelidamos de “quarto do mistério“. Sobre ele escrevi uma crônica, que se encontra no livro O Quarto do Mistério. Nele se encontravam coisas maravilhosas: canastras antiquíssimas cheias de coisas velhas, aparelhos de medicina que meu tio médico havia abandonado, duas cítaras bordadas em madrepérola, caixas com bisnagas de tinta (minhas tias eram prendadas; pintavam, tocavam cítara, piano, bandolim...), uma vitrola sem a corneta, revistas, um relojão de parede redondo, parado.... Os sobrinhos eram proibidos de entrar lá, por causa da poeira e das teias de aranha. Mas a gente roubava a chave, entrava, trancava por dentro, e ficava viajando por mundos imaginários. E havia um outro quarto, não tão proibido, o “quarto dos badulaques“. Lá não se servia guisado de fígado e bofes e nem havia as coisas que as mulheres põem no rosto para amaciar ou enfeitar a pele. Lá se encontravam “coisas miúdas, velhas, de pouco valor“, quinquilharias sem conta, brinquedos, livros de figura... Pois eu resolvi criar um “quarto de badulaques“ aqui no jornal. Os redatores do Caderno C, delicadamente me informaram que eu estava ultrapassando os limites. Além da crônica eu colocava, ao final, uma série de coisinhas, dicas, pitadas, informações e, no frigir dos ovos, minha escritura acabava por ocupar uma página inteira. Ouvi, concordei, obedeci. As ditas coisinhas são pensamentos avulsos que aparecem e desaparecem, nunca serão transformados em crônicas, porque o tempo não dá. Mas são divertidas. E eu não quero jogá-las no lixo do esquecimento. Assim, resolvi criar para elas um “quarto de badulaques“. Hoje é a primeira vez que o abro ao público...(Rubem A.)

...Eu também. Vou “roubar” a idéia do Rubem. Afinal todos temos um quarto de badulaques e eu confesso, o meu tem um montão de coisas. Vou tentar escrever aqui no Blog sobre meus badulaques ou “quarto de mistério nem tão misterioso assim”, tudo bem que não vai ser igual ao do Rubem, com tanto conhecimento das coisas, tanta inteligência, serão apenas coisinhas minhas, corriqueiras, realmente pensamentos avulsos.

[O Quarto de Badulaques do Rubem]

*Tmy*

Um comentário:

Cah disse...

Amigaaaa, vc esta quase me convencendo de ter um blog tbm!!!! Gostei da ídeia que vc "roubou" do Rubem...É bom de vez em qndo pelo menos tentar-mos nos expressar neh?